quinta-feira, 22 de abril de 2010

Estreia

Reconhecer a versatilidade, a inteligência e a imparcialidade de Leonardo Alves e de Gustavo Ribeiro como profissionais de imprensa na sua melhor acepção, é tarefa facil. No que me concerne, dividir com os dois o "moído" dominical no programa DE PRIMEIRA da Radio Cariri, mais ainda. Portanto, quando fui convidado por ambos para colaborar com este jornal eletrônico, não titubeei e aceitei de imediato. Feito o preâmbulo, começo com a crônica abaixo, que relata um episódio acontecido comigo quando das minhas andanças pelo velho continente.



PERIPÉCIAS DE UM DOMINGO

Clélio Soares*

Algumas gotas de orvalho ainda teimavam em molhar a vegetação, naquela manhã ensolarada de fim de primavera, em Zurique. O céu, de um azul maravilhoso, emoldurava os jardins bem cultivados, onde as tulipas e outras flores tão exuberantes quanto, exibiam a sua inefável beleza. Diante de tanta prodigalidade, esta pobre criatura imaginava o que faria se tivesse vocação para a pintura ou a poesia. Embevecido com o magnífico espetáculo proporcionado pela natureza, quase passou-me despercebida a chamada do aparelho celular. Meio constrangido, atendi a ligação e era Gery Schädler. Ele e a sua esposa Helen, são os proprietários do jornal PERFIL. Proprietários e abnegados, porquanto exercendo outras profissões em empresas distintas nos dois expedientes, ainda encontravam tempo para dedicar ao jornal, fazendo com que ele evoluísse à cada edição. Falando num português com forte sotaque alemão e com a voz saudável das pessoas que estão sempre de bem com a vida, o suiço Gery Schädler foi enfático: "Clélio, vá se preparando, que hoje à tarde teremos um trabalho importantíssimo.

O São Paulo Futebol Clube do Brasil, vai jogar com o Grasshoper, campeão suiço, no Hardturm Stadium e a gente terá a oportunidade de fazer uma super matéria. Eu levo a objetiva para bater as fotos e você, alem de pegar os detalhes do jogo, fará as entrevistas com jogadores e dirigentes. A página esportiva da proxima edição, terá este acontecimento como destaque. Venha cedo para evitar problemas de estacionamento e quanto a sua credencial de acesso ao estádio, já está comigo".

O diabo é que eu havia sido convidado para uma festa junina promovida por amigos brasileiros, que começaria no mesmo horário do jogo. Mas, como responsável pela página esportiva do PERFIL, esta era a prioridade. Além do mais, seria uma boa oportunidade para rever o tricolor paulista, varias vezes campeão estadual, nacional, da Libertadores das Américas e do Intercontinental de Clubes.

Confirmei com o Gery e no começo da tarde, me mandei para o Hardturm. No trajeto, eu conjeturava: vou entrevistar Rogério, goleiro da seleção brasileira e Leonardo, tetra campeão do mundo pelo Brasil em 94, que voltou recentemente ao São Paulo, vindo do Milan da Itália. Depois pego o treinador e outro jogador renomado, gravo tudo, faço uma triagem e aí, é só redigir e enviar para a editora chefe, a polivalente Helen Schädler e a missão estará cumprida. Quando cheguei ao local do jogo, coisas surpreendentes aconteceram. Prá começar, não tive problemas para estacionar o carro. O PARKPLATZ (estacionamento), estava praticamente vazio. Pedi a minha credencial ao Gery e apresentei-a ao porteiro, mas não havia necessidade; a entrada era franca. Mesmo assim, o número de torcedores era reduzidíssimo. Tá certo que muitas pessoas aproveitando o dia de sol, tenham preferido os lagos com estrutura de praia, que há em toda a Suiça ou os eventos juninos, mas não justificava. Fomos ao vestiário do famoso Tricolor do Morumbi e lá, fui apresentado ao chefe da delegação. Era um cidadão espanhol com nome de empresário chamado Juan Reyes, por sinal, muito gentil. Ansioso, fui logo perguntando: o São Paulo veio com todos os titulares? O time está bem? Eu gostaria de entrevistar o pessoal prá colocar na página de esportes do PERFIL, um jornal brasileiro editado aqui na Suiça e este é Gery Schädler, um dos proprietários.

Foi ele quem soube através do pessoal do próprio Grasshoper, que o São Paulo jogaria hoje aqui, iniciando uma rápida temporada por gramados europeus. O homem cumprimentou-nos, olhou-me dentro dos olhos e soltou o verbo: "meu amigo, eu acho que o senhor veio ao lugar errado. O São Paulo ficou lá no Brasil. Quem vai jogar aqui, é o Internacional de Bebedouro que disputa o Campeonato Paulista da terceira divisão e sem perspectivas de promoção. Hoje, a gente vai lutar prá ver se perde de pouco. Se isso acontecer, talvez a excursão se estenda até a Austria e a Alemanha". Claro que não deixei transparecer, mas a minha reação foi de frustração e descontentamento. Como não havia o que fazer,desejei sorte a ele e ao seu time e prá não perder a viagem, resolvi ficar pra ver o jôgo. Gery saiu no intervalo para cobrir outro evento e eu, aguentei até o fim. Como dizem que depois da tempestade vem a bonança, dois fatos serviram de paliativo; um show de mulatas brasileiras, dançando o nosso samba com a ginga que lhes é peculiar e o coquetel, regado à caipirinha, com a presença entre outros convidados, da delegação do Inter de Bebedouro e do qual não participei, em função do meu estado de espirito. Depois de todo esse "moído", não custa nada lembrar o resultado do jôgo. O Grasshoper levou um sufoco mas venceu por 1 x 0, com um gol duvidoso marcado aos 43 minutos do segundo tempo. Apesar da injustiça, o locutor do estádio, suiço, naturalmente, não arrefeceu o seu entusiasmo sarcástico.
Com uma voz de fazer inveja aos melhores tenores e usando um samba da Beija Flor como fundo musical, ele "sapecou" pela enésima vez: Grasshoper, campeão suiço: 1 x São Paulo do Brasil: 0. É mole ?!?!?!... E pensar que o meu domingo havia começado com uma bela manhã ensolarada de fim de primavera, com o céu azul emoldurando os jardins, onde as exuberantes tulipas ...

4 comentários:

  1. Grande Clélio para nós (eu e Gustavo) é um prazer desfrutar dos almoços de domingo ao seu lado. Um profissional que fez (e faz) história da imprensa esportiva de Campina Grande. Sua experiência internacional é uma grande contribuição para todos.

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  2. Clélio, depois de ler tua crônica, percebi que algo mais representativo senta ao nosso lado todos os domingos. De primeira, senti que seríamos amigos. Empatia e carisma apesar de significados diversos, são originários da mesma fonte. Já dizia Valdir Amaral, "Quem é bom já nasce feito".
    Até mais tarde!

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  3. O Blog De primeira é o primeiro, segundo e terceiro melhor sítio do gênero. É completo, de uma redação e conteúdo impecáveis. E ainda tem o Clélio Soares, um polivalente, se reencontrando com a profissão.
    Esse Blog é de primeira em qualquer lugar do Brasil.

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  4. Um filho é sempre suspeito pra falar do pai, mas neste caso, as suspeições podem ser deixadas de lado. Porque o velho foi e é referência no rádio esportivo campinagrandense (por mais que não queira admitir isso), seja pela imortal dupla de pista com Levi, ou ao lado de outros ícones como Joselito Lucena, "Olé", Roberto Hugo, Paulo Roberto, Joacir Oliveira, Quinha... Ou dos já idos e importantíssimos Humberto de Campos, Geraldo Batista, Stênio Mozart, Edimílson Antônio e Alberto de Queiroz. Sempre mantendo a marca da irreverência e imparcialidade.

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